Uma em cada 20 pessoas com 18 anos ou mais, ou 5,1%, se reconhecem como homossexuais ou bissexuais em Porto Alegre. O dado é apontado pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 e divulgada nesta quarta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo traça um retrato da população no quesito orientação sexual pela primeira vez. Antes disso, a estatística disponível sobre essa temática era apenas de casais do mesmo sexo.
"Pelo caráter sensível e privado da informação, as perguntas sobre a orientação sexual de um determinado morador devem ser respondidas por ele mesmo. Ao realizar essa divulgação, o IBGE pretende dar uma primeira contribuição com estimativas da população de lésbicas, gays e bissexuais em diferentes regiões", afirma o diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo.
A capital gaúcha aparece na frente de Natal (4%) e com 2,3 pontos percentuais a mais do que a média nacional. Em números absolutos, isto representa, em média, 60 mil porto-alegrenses com 18 anos ou mais.
No entanto, como explica o IBGE, os percentuais obtidos para os estados e capitais não devem ser comparados, pois não são considerados significativamente diferentes entre si em função da margem de erro dessas estimativas.
Porto Alegre teve, em média, 5,1% de autodeclarados homossexuais ou bissexuais, mas o intervalo de confiança varia de 3,5% a 7,3%. Logo, na comparação com Florianópolis, por exemplo — que tem média de 3,4% e intervalo de confiança de 2,3% e 5,1% —, pode ter, proporcionalmente, o mesmo ou menor número de pessoas que se declaram homossexuais ou bissexuais na capital catarinense, o que inviabiliza o ranqueamento.
A PNS fez o levantamento de pessoas que se autoidentificam como heterossexuais, homossexuais e bissexuais, com recortes por sexo, cor ou raça, faixa de idade, nível de instrução, renda e local de moradia, fornecendo dados para grandes regiões, unidades da federação e capitais. O intervalo de confiança é de 95%.
A pesquisa utiliza a autodeclaração da orientação sexual. Ou seja, o pesquisador aplicava a seguinte pergunta ao morador com 18 anos ou mais selecionado no domicílio: "Qual é a sua orientação sexual?". Veja abaixo como foram definidas as sexualidades:
Para o Instituto, por ser uma informação sensível e de cunho pessoal, além de gerar desconfiança em relação ao uso do dado e receio do estigma e discriminação, conforme apontado por relatórios internacionais, está sujeita a subnotificação.
Segundo a coordenadora da pesquisa, Maria Lúcia Vieira, o fato de uma pessoa se autoidentificar como heterossexual não impede que ela tenha atração por, ou relação sexual com, alguém do mesmo sexo.
"Para a captação dessas diferentes formas de avaliar a orientação sexual, seria necessária a investigação do comportamento e da atração sexual, conceitos diferentes da autoidentificação", explica.
Embora tenha um nível significativo de pessoas que se declaram homossexuais ou bissexuais, Porto Alegre não é a capital com a maior média de heterossexuais autodeclarados. Isto porque, embora 92,6% da população reconheça ter atração por pessoa do sexo oposto, outras 2,3% não souberam ou se recusaram a responder à pergunta.
No recorte nacional, chama a atenção dos pesquisadores que 3,6 milhões não quiseram responder sobre sua orientação sexual. Os cerca de 2,3% se recusaram a comentar ou não souberam responder representam um número maior do que o total da população que se declarou homossexual ou bissexual (2,9 milhões).
"O número de pessoas que não quiseram responder pode estar relacionado ao receio do entrevistado de se autoidentificar como homossexual ou bissexual e informar para outra pessoa sua orientação sexual", analisa Maria Lucia Vieira.
Os jovens de 18 a 29 anos apresentaram o maior percentual de pessoas que se declararam homossexuais ou bissexuais (4,8%). Mas a faixa de idade também teve os maiores percentuais de pessoas que não souberam responder (2,1%) ou se recusaram a dar a informação (3,2%).
"Pode estar associado ao fato de essas pessoas ainda não terem consolidado o processo de definição da própria sexualidade. Resultados semelhantes foram obtidos em pesquisas realizadas em outros países, como o Reino Unido, por exemplo", afirma a coordenadora da pesquisa.
Por mais que seja inédito e, portanto, não possível de definir um movimento ao longo dos últimos anos, a pesquisa reflete comportamentos percebidos em outros países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a coleta da orientação sexual pela autodeclaração é realizada desde 2013, a National Health Interview Survey (NHIS) mostrou que, em 2018, 3,2% das mulheres e 2,7% dos homens norte-americanos se declararam homossexuais ou bissexuais.
No Brasil, a PNS mostrou que esses percentuais foram de 1,8% e 1,9%, respectivamente.